Uma nova seção

Manoel Henrique Campos Botelho, autor de "Na ilha dos sapatos gratuitos", RPM 7, p. 40, é engenheiro civil e autor de crônicas publicadas no jornal Construnews e na revista Engenharia, algumas das quais ele enviou à RPM. Estas crônicas, de leitura agradável, giram sempre em torno de algum motivo matemático. O Comitê Editorial quer partilhar com o leitor a oportunidade de conhecer este contador de histórias.
 

     Debandada da torcida do Corinthians  

Um dia, era o jogo do Corinthians contra o ABC de Natal. O jogo foi em São Paulo não me lembro em que estádio. Como era de se esperar, 99% do estádio era de corinthianos e só 1% de torcedores potiguares, pobres migrantes acolhidos em terra paulista.

Chamemos essa platéia de corinthianos e de potiguares de P1.

Aí aconteceu o inesperado. O Corinthians começou a levar um show de bola e o placar começou impiedosamente a marcar, 1 x 0, 2  0,3  0. O ABC de Natal estava ganhando fácil.

Indignada com a derrota iminente a torcida corinthiana começou a debandar e abandonar o estádio. Claro está que da torcida do ABC ninguém saiu. Quando já era no fim do segundo tempo e o placar já anunciava escandalosamente 4x0, somente 90% do estádio ainda era de torcedores alvinegros. A pergunta é: saiu muita gente do estádio, para que a proporção de 99% caísse a 90%? Parece que não, não é?

Chamemos essa platéia remanescente dos dois times, de platéia P2.

Agora fica o problema:

— Saiu muita gente do estádio?

— Qual a relação entre P2  e P1 ? 
Passemos agora a outra leitura da mesma história.

Um lodo com 99% de umidade foi seco em um filtro prensa. A torta resultante da filtragem tem umidade de 90%. Pergunta-se:

— Saiu muita água nesse processo?

— Qual a relação volume final e volume inicial?

Resposta.

Saiu gente pra burro, pois:

Se imaginarmos uma platéia de 40 000 pessoas, ela será de 400 potiguares e 39 600 corinthianos (no início) e no final de 400 potiguares e 3 600 corinthianos. Saiu pois um total de 36 000 corinthianos.


   Juro que li, vi ou ouvi  

Se do infinito tirarmos uma quantidade, quanto fica?

Os matemáticos ao tentarem responder a essa pergunta dirão:

— Infinito.

Acho que não é. Se não vejamos esta notícia que li nos jornais de hoje.

Arkansas — EUA — o prisioneiro John Edward condenado a prisão perpétua deste Estado, por ter doado um rim para um doente, teve sua pena reduzida de doze anos.

Agora. Como fica a pena de John? Se na Matemática não há solução, na prática há. Basta deixar o John livre nos próximos doze anos e depois trancafiá-lo definitivamente.