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Professor João Bosco Pitombeira convocou-me para saudar os jovens
vencedores das Olimpíadas de Matemática e para lhes dizer
algumas palavras sobre Matemática, em particular sobre a Matemática
brasileira. É
com prazer que faço isto. Diz-se que a Matemática é uma velha ciência
cultivada por jovens. Se bem que eu não concorde inteiramente com esta
afirmação, devo reconhecer que as velhas sabedorias sempre contêm
um elemento de verdade. De modo que, falando a jovens interessados em
Matemática, arrisco-me a falar a futuros matemáticos brasileiros. E aí
aparece uma questão sobre a qual gostaria de apresentar algumas idéias.
A
questão é a seguinte: O que é que distingue uma pessoa interessada
em Matemática de um matemático propriamente dito? Em ambos os
casos, há a mesma paixão em resolver problemas, o mesmo gosto pelo
desafio de coisas abstratas, o mesmo sentimento, às vezes difuso, de
estar participando de uma tarefa milenar e permanente. Creio que a distinção reside precisamente na natureza dos problemas tratados. Sem um treinamento efetivo que o leve à fronteira do que é conhecido, o interessado em Matemática ficará resolvendo problemas que são essencialmente conhecidos, ou, o que é muito freqüente, cujas soluções não contribuem para o desenvolvimento da Matemática. Os problemas de Matemática que contribuem para o seu desenvolvimento são aqueles que forçam a criação de novas técnicas, relacionam idéias aparentemente distintas e iluminam a nossa compreensão da Matemática como um todo. É a dedicação à solução de tais problemas (nem sempre bem sucedida) que caracteriza e distingue um matemático propriamente dito. Há
dois pontos que gostaria de deixar bem claro no que acabo de dizer. Primeiro,
que o que caracteriza um matemático é a sua vivência e fidelidade
à idéia da pesquisa relevante em Matemática, e não o seu sucesso.
Existem matemáticos mais ou menos bem sucedidos, mas pertencem todos à
comunidade matemática internacional. Em verdade, a questão do
sucesso individual de cada matemático é, na minha opinião, um
problema que pertence mais à história que aos contemporâneos.
Segundo,
que não decorra de minhas palavras que só os grandes problemas da
Matemática devam merecer a nossa atenção e que a solução de
problemas
elementares e conhecidos seja uma atividade a desprezar. Pelo contrário,
tal atividade, convenientemente dosada, é parte essencial do
treinamento de um matemático. Mesmo em plena atividade de pesquisa, o
olhar e reolhar situações simples é um método poderoso para
compreender o essencial de situações complicadas. Estabelecida
a caracterização de um matemático, põe-se a pergunta: E como
pode um interessado em Matemática se transformar em um matemático? É
preciso, como vimos, que tal interessado seja levado às fronteiras do
conhecimento matemático para que o seu talento (se houver) não seja
desperdiçado. A experiência mostrou que a melhor maneira de chegar a
este objetivo é colocar o interessado em contacto com matemáticos
ativos em pesquisas. Isto requer a existência de uma comunidade matemática
ampla e razoavelmente bem estruturada. Há
poucas décadas atrás, a existência de uma tal comunidade no Brasil
era quase impensável. Só para dar uma idéia das dificuldades
existentes, permitam-me apresentar um relato pessoal. Em 1957
compareci ao Primeiro Colóquio Brasileiro de Matemática, organizado
pelo IMPA, que reuniu por três semanas cerca de 40 pessoas na cidade de
Poços de Caldas, Minas Gerais. Uma minoria dos participantes havia tido
alguma experiência em pesquisa matemática no exterior, e procurava
transmitir parte desta experiência a uma maioria de interessados (eu
incluído) recrutada em várias regiões do Brasil. Para mim
não estava sequer clara a viabilidade de uma carreira matemática no
Brasil. Eu havia me formado em Engenharia Civil no Recife, vindo das
Alagoas. Engenharia era, naqueles tempos e lugares, a única opção
possível para alguém interessado em Física ou Matemática. Mas a
prática de Engenharia estava muito distante de meus interesses
iniciais. Deixei o emprego de engenheiro e fiquei como Assistente
contratado da Universidade do Recife. O salário dava para manter alma
e corpo unidos e me deixava as tardes inteiramente livres para estudar.
Em virtude de razões que não vêm ao caso agora, decidi Neste
ponto, o Colóquio de 1957 teve uma influência decisiva. Por um lado,
descobri que precisava aprender muito mais coisas do que eu imaginava,
se quisesse dar alguma contribuição ao que estava acontecendo em
Geometria Diferencial no resto do mundo. Por outro lado, ficou claro
para mim que existia no Brasil o gérmen de uma comunidade matemática,
que o que havia desejado era possível e, mais do que isso, que era o
caminho do futuro. De
volta para o Recife, iniciei o penoso processo de tentar aprender coisas
inteiramente novas nas quais nem eu, nem as pessoas que me eram acessíveis,
tinham qualquer experiência. Não quero entrar em detalhes, mas é óbvio
que o processo teria sido abandonado, por frustração e desânimo.
Felizmente, decidi em 1959 fazer um estágio no IMPA, onde encontrei
de novo um ambiente matematicamente estimulante, e de onde saí em 1960
para fazer um Doutorado no exterior. Quis
apresentar este relato simplesmente para dar uma idéia dos descaminhos
que se apresentavam a um interessado em Matemática na década dos '50.
Espero não ter exagerado nas cores. Em verdade, qualquer matemático
brasileiro da minha geração poderia contar uma história semelhante. Na
década de 60 aumentou consideravelmente o número de brasileiros que
foram fazer um Doutorado de Matemática no exterior. Os cursos de
Mestrado começaram a se espalhar pelo Brasil. Os Colóquios de Matemática
continuaram a se reunir a cada dois anos, criando uma tradição
singular e influenciando fortemente os rumos da Matemática
brasileira. No 7° Colóquio, em 1969, é criada a Sociedade Brasileira
de Matemática, e o 8° Colóquio em 1971 já contava com 400
participantes.
Na
década de 70, nota-se nitidamente um salto qualitativo, conseqüência
do esforço e entusiasmo das décadas anteriores. Pesquisa de boa
qualidade começa a ser produzida dentro do Brasil. O IMPA monta um
bem sucedido Programa de Doutorado que em 15 anos produz mais de 60
doutores, a maior parte dos quais se espalha pelo Brasil, do Amazonas
ao Rio Grande do Sul. Vários matemáticos brasileiros são convidados a
expor seus trabalhos no Congresso Internacional de Matemáticos, que se
reúne a cada quatro anos para discutir a nata do que foi feito neste
intervalo. O Brasil passa da posição l para a posição 3, em uma
classificação de l a 5, na União Matemática Internacional. A
situação atual é radicalmente diferente daquela da década de 50.
Hoje existe uma comunidade matemática brasileira que embora pequena em
termos Quando
mencionei, no início, que não concordava inteiramente com a
afirmação
que a Matemática é uma velha ciência cultivada por jovens, eu tinha
em mente as realizações da atual geração de matemáticos
brasileiros. À luz do exposto, permitam-me modificar ligeiramente a
afirmação para uma com a qual concordo sem restrições: A Matemática
é uma velha ciência que precisa de jovens.
Os
jovens vencedores que ora saudamos poderão fazer parte da futura
geração
de matemáticos brasileiros. Eles demonstraram possuir uma qualidade que
é fundamental para um matemático, ou seja, a habilidade e o interesse
em resolver problemas. Jovens deste calibre são necessários à Matemática
aqui e alhures, e nada nos daria mais prazer do que ver a nossa velha
Matemática cercada dos jovens que ela precisa. Em nome da comunidade
matemática brasileira, congratulo-me com estes jovens e espero
reencontrá-los breve.
Realizou-se
no Uruguai, em fins de janeiro p.p., a II Olimpíada Ibero-americana de
Matemática da qual participaram 11 países. Como
vem fazendo desde 1979, em relação a eventos congêneres, a SBM
selecionou a equipe brasileira assim constituída: Felipe Fritz Braga,
Herbert César Gonçalves, Marcelo Ricardo Xavier de Mendonça e Ralph
Costa Teixeira, liderados pelo professor
Ângelo Barone Netto, da
Comissão de Olimpíadas da SBM. A seleção desta equipe baseou-se,
principalmente, nos resultados da VIII Olimpíada Brasileira de Matemática.
Todos os estudantes da equipe que
representou o Brasil foram premiados: Dos seis problemas que constituíram a II Olimpíada
Ibero-americana, seguem os três propostos no 1° dia da competição e
a solução do 3° problema, apresentada por Felipe e que lhe valeu um prêmio
especial pela sua concisão e elegância.
2. Em um triângulo ABC, M e N são os pontos médios respectivos
dos lados AC e AB e P é o ponto de intersecção de BM e CN. Demonstre
que, se for possível inscrever uma circunferência no quadrilátero ANPM,
então o triângulo ABC será isósceles.
Como f(0)
e f(1) são inteiros, indutivamente, f(r) é inteiro, r
IN.
a XXVIII Olimpíada Internacional de Matemática,
em Cuba. (julho);
a IX Olimpíada
Brasileira de Matemática (15 de agosto);
e muitas Olimpíadas Regionais. Veja nas RPMs 8 e
9 a quem se dirigir para obter maiores informações.
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