|
Luis
Marcio Pereira Imenes e Pra
que serve isto, professor ? Onde
vou usar isto, professora ? Todos
nós, professores de matemática, já ouvimos estas perguntas em sala de
aula. E
foram poucas às vezes em que conseguimos dar a elas uma resposta que
satisfizesse e convencesse o aluno. As
respostas clássicas que costumamos dar são estas:
mais tarde você vai usar
na física.
Se você quer estudar
engenharia precisa saber isto.
Estude porque mais tarde
vai cair no vestibular. Com
estas respostas a gente mais se livra do problema do que atende realmente
a uma justa curiosidade do
aluno. É
fácil entender por que não temos respostas satisfatórias para estas
perguntas. Ensinamos o que aprendemos e a matemática que aprendemos também
é desligada da realidade. Nós também, muitas vezes, não sabemos para
que serve a matemática, embora saibamos que ela serve para alguma coisa. É
preciso romper o ciclo vicioso e esta seção da revista tentará
colaborar neste sentido. Vamos ver para que servem certos temas matemáticos
estudados no primeiro e no segundo grau. Entretanto
melhor que dar um peixe é ensinar a pescar. Nós, autores deste artigo, temos conseguido
algumas respostas para a pergunta: pra que serve isto ou aquilo na matemática?
Gostaríamos de contar aos nossos colegas como temos conseguido isto. O
mundo está à nossa volta e a matemática está presente nele,
cotidianamente, nas atividades de muitas pessoas. É preciso sair em busca
disso e conversar com outras pessoas. Desenhistas mecânicos, projetistas,
agrimensores, engenheiros, mestres de obra, comerciantes, bancários,
ferramenteiros, torneiros, mecânicos e outros utilizam muito a matemática
nas suas atividades profissionais. Interrogá-los e saber que matemática
usam é uma experiência bastante rica. Essa
é uma sugestão aos colegas que trabalham com alunos adolescentes ou
adultos em cursos noturnos principalmente (por exemplo nos cursos
supletivos). Muitos deles trabalham naquelas profissões que relacionamos
acima. Peçam-lhes que tragam os problemas que enfrentam nos seus
trabalhos e que usam a matemática. |
Temos
feito e aos poucos têm aparecido problemas interessantes, onde surge uma
matemática viva, presente no trabalho diário daquelas pessoas. Os alunos
gostam disso. Passam até mesmo a contar conosco para a resolução de
problemas que lhes surgem no seu trabalho.
Este
problema pode ser resolvido usando os métodos da geometria analítica. Aproveitando a simetria da figura vamos escolher um sistema de coordenadas assim:
Fazendo
(1) – (2) vem: 20x200+20x-200+20h=0 Donde:
x 10 + h=0 Logo:
x =10 – h
(3) Substituindo
(3) em (2) chegamos a:
|
Resolvendo
esta equação do segundo grau e lembrando que h
0 obtemos: h = 8,2 cm. Veja
bem, este não é simplesmente um exercício de matemática. Com um
exemplo destes é possível mostrar ao aluno onde serve a matemática. É
claro que nem sempre é fácil responder a pergunta: para que serve isto,
professor? Em
alguns capítulos da matemática esta resposta é realmente complicada.
Por exemplo: para que estudar os polinômios? Para que aprender a dividir
polinômios? Talvez neste caso não haja outro jeito senão dizer ao aluno
que o conhecimento dos polinômios é
necessário no estudo de certas equações (é fácil mostrar a importância prática de se saber resolver
equações). Nossa experiência revela
que o aluno não se aborrece quando, às vezes, lhe damos a resposta: “isto será usado mais adiante”. O
que não o convence é ouvir esta resposta o tempo todo. Além
disso, vivemos num mundo extremamente utilitarista, onde as coisas têm
sempre que servir a um fim material especifico. No entanto, o homem
continua gostando de fazer certas coisas que não têm utilidade imediata,
no sentido utilitarista do termo. A arte é um exemplo disto. Às
vezes, na matemática, estudamos certos assuntos, resolvemos certos
problemas, simplesmente com a intenção de vencer desafios, brincar com a
matemática, divertir-nos com ela. Esta dimensão também deve ser
mostrada ao aluno: é possível sentir prazer brincando com a matemática.
Esta
história tem dois personagens: o caipira e o advogado e ela me foi
contada por um amigo do advogado. Passa-se há sete ou oito anos atrás,
nas proximidades de São Paulo. Vai
lá um dia em que nosso amigo advogado resolve comprar um sitio, de poucos
alqueires, com a intenção de construir uma casa e nela passar seus fins
de semana. Como não havia nascente no sitio, resolveu mandar cavar um poço,
quando ficou sabendo que seu vizinho,
um caipira que ali morava há muito tempo, tinha em sua propriedade uma
nascente com água boa e
farta. Procurou o vizinho e fez a proposta: -
Eu instalo um cano de uma polegada de diâmetro na sua nascente, conduzo a
água para o meu sitio e lhe pago x cruzeiros por mês. A
proposta foi aceita na hora. Passa-se
o tempo e o advogado resolve implantar no sitio uma criação racional de
porcos e, para isso, iria precisar de mais água. Voltou a procurar o
caipira e lhe propôs trocar o cano de uma polegada por um outro de duas
polegadas de diâmetro e pagar 2x cruzeiros por mês a ele. O
caipira escutou a proposta, não deu resposta imediata, pensou, e passados
alguns minutos respondeu que não aceitava a proposta. |
-
É que num tá certo, retrucou o caipira, e explicou com um gesto. A água que vosmecê me paga passa por aqui:
Com
a nossa linguagem a questão fica assim: um círculo de diâmetro 1 cabe 2
vezes num circulo de diâmetro 2 e ainda fica sobrando espaço:
Ou
ainda: se o diâmetro de um circulo dobra, sua área não dobra. Ela
“mais que dobra”. |
O que o caipira não tinha condições de perceber era que o pagamento correto seria 4x (quando duas figuras são semelhantes a razão entre suas áreas é igual ao quadrado da razão entre seus comprimentos correspondentes). Mas para perceber que 2x é pouco basta visualizar um cano dentro do outro. |