Élvia Mureb Sallum
IME - USP

O artigo Algoritmos e fractais com programas de GD publicado na RPM 49, p. 27, utiliza softwares de Geometria Dinâmica para a construção de fractais, citando alguns exemplos. A introdução de fractais no ensino médio, além de satisfazer a curiosidade de quantos já ouviram falar neles, propicia a oportunidade de trabalhar com processos iterativos, escrever fórmulas gerais, criar algoritmos, calcular áreas e perímetros de figuras com complexidade crescente, introduzir uma idéia intuitiva do conceito de limite e é um excelente tópico para aplicação de progressões geométricas e estímulo ao uso de tabelas.

Neste artigo, apresentamos outros exemplos de fractais, cujas aproximações podem ser construídas em papel ou por meio de softwares geométricos e calculamos alguns de seus dados e suas dimensões.

Um fractal é uma figura que pode ser quebrada em pequenos pedaços, sendo cada um desses pedaços uma reprodução do todo. Não podemos ver um fractal porque é uma figura limite, mas as etapas de sua construção podem dar uma idéia da figura toda. Seu nome se deve ao fato de que a dimensão de um fractal não é um número inteiro.

Exemplo 1

Na figura 1, a seguir, foi traçada uma curva que vai do ponto A ao ponto B, formada por 4 segmentos de mesmo comprimento, igual a da distância de A até B.

Na figura 2, em cada um dos segmentos da curva da figura anterior, foi reproduzida uma cópia da figura original, reduzida em de seu tamanho, de modo a formar uma nova curva de A até B, agora formada por 16 segmentos.

Na figura 3, em cada um dos segmentos da curva da figura 2, foi reproduzida uma cópia da figura original.

figura 1                          

figura 2                          

figura 3                            

Observe as figuras obtidas e, em cada uma delas, conte quantas cópias há da curva original e de quantos segmentos é formada a curva entre A e B. Se o comprimento da curva original for de 36 unidades, qual o comprimento das curvas entre A e B nas figuras 2 e 3?

O fractal correspondente a essa construção é a curva limite, num certo sentido, desse processo. Trata-se da chamada curva de Koch. É possível imaginar que num fractal há partes da figura que são cópia do todo, pois cada etapa da construção é uma união de 4 cópias reduzidas da etapa anterior. Essa propriedade é chamada de auto-semelhança.

Ao desenvolver com seus alunos esse exemplo, vale a pena organizar alguns dos dados em uma tabela, pedindo a eles que generalizem, como no exemplo seguinte, em que o limite dos perímetros tende a infinito:

Exemplo 2

Um outro exemplo, que pode ser desenvolvido de modo análogo ao anterior, tem como curva original a figura 4, cujo comprimento pode ser tomado como de 45 unidades.

Reproduzindo, em cada lado da figura 4, uma cópia da original reduzida em 1/3 de seu tamanho, obtemos a figura 5 :

figura 4                         

figura 5                          

Repetindo o processo mais uma vez, obtemos a

figura 6.

 

 

Exemplo 3

Considere um segmento de comprimento L = 1 unidade. Divida-o em 3 partes iguais e retire o interior da parte central. Repetindo sucessivamente o processo em cada intervalo restante, obtém-se, como objeto limite, o fractal chamado conjunto de Cantor.

Iniciando a construção a partir do intervalo [0,1], esse conjunto, não só contém os extremos dos intervalos retirados, mas, o que é intrigante, muito mais: é caracterizado pelos números reais de [0,1] que, na base 3, admitem uma representação só com os dígitos 0 e 2.

O aluno poderá completar a tabela abaixo, observando que o comprimento total de cada etapa da construção tende a zero, quando cresce o número de etapas.

Exemplo 4

Começando com um triângulo retângulo de catetos de comprimento L e dividindo seus lados ao meio, obtemos quatro triângulos congruentes que são semelhantes ao original, com razão de semelhança igual a 1/2.

Retirando o interior do triângulo central e repetindo sucessivamente o processo nos triângulos restantes, obtemos como limite um fractal chamado triângulo de Sierpinski.

Iniciamos uma tabela com os dados das primeiras construções e pedimos que os alunos a completem. Na tabela, A é a área do triângulo inicial.

Exemplo 5

Como no exemplo anterior, iniciamos com um quadrado de lado L, dividimos seus lados em 3 partes iguais, obtendo 9 quadrados de lados L/3. Retiramos o quadrado central, repetimos o processo em cada quadrado restante e assim sucessivamente, obtendo um fractal chamado quadrado de Sierpinski.

Exemplo 6

Repetindo a construção da curva de Koch do Exemplo 1 em cada lado L de um triângulo eqüilátero obtém-se outro fractal, construído pelo matemático sueco Helge von Koch em 1904, chamado de ilha de Koch (ou floco de neve de Koch).

Neste exemplo, os alunos podem elaborar uma tabela com os dados (números de lados, comprimento de um lado, perímetro e área) das primeiras figuras que aproximam o fractal e da n-ésima etapa da construção, supondo L = 1. Eles identificarão a seqüência dos perímetros como uma progressão geométrica e a das áreas como a soma dos termos de uma PG. Poderão, também, concluir que a primeira não converge e a última converge.

Dimensão de um fractal

Para motivar uma noção de dimensão de um fractal adequada para os fractais dos exemplos dados, olhar as figuras a seguir e lembrar de uma propriedade desse conceito num sistema regular, com densidade uniforme, como fios, placas, cubos sólidos, idealmente homogêneos.


                         

Nesses casos, a dimensão d estabelece a relação entre a massa M e a medida linear L do sistema.

Isto é, considerando um fio homogêneo, de comprimento L e massa M(L) e uma parte qualquer do mesmo fio de comprimento bL (0 < b £ 1), e massa M(bL), tem-se M(bL) = bM(L).

Se, de uma placa homogênea de forma quadrada de lado L e massa M(L), se toma uma parte na forma de um quadrado de lado bL e massa M(bL), então M(bL) = b2M(L).

E, analogamente, tomando um cubo de aresta bL de um cubo homogêneo de aresta L, tem-se: M(bL) = b3M(L).

Nos três casos, tem-se M(bL) = bd M(L), sendo d a dimensão do sistema considerado.

Vamos usar essa propriedade para calcular a dimensão de um fractal, procurando o número d para o qual se tenha M(bL) = bd M(L), em que 0 < b < 1 é característico de cada fractal.

Na curva de Koch do Exemplo 1, iniciando a construção com um segmento AB de comprimento L, observamos que, tomando uma redução do fractal de e reunindo adequadamente 4 cópias dessa redução, obtém-se o fractal original.

Assim, podemos afirmar que a massa M(1/3) dessa redução corresponde a da massa M(L) do fractal original, isto é, .

Como a dimensão desse fractal é o número d dado por , temos que

Observe que, apesar do nome fractal, essa dimensão não é um número racional, mas um quociente cujos termos não são números inteiros.

No Exemplo 2, podemos pedir que o aluno determine a dimensão, que é , observando que a massa M(L/3) de uma redução de do fractal corresponde a da massa M(L) do sistema original.

No conjunto de Cantor do Exemplo 3, iniciando a construção com um segmento de comprimento L, a massa M(L/3) de uma redução de corresponde a da massa M(L) do original. Assim, a dimensão d é obtida de , isto é,

O triângulo de Sierpinski do Exemplo 4 é uma reunião de 3 cópias de uma redução de do fractal original. Sendo M(L) a massa do original e a massa da cópia, temos que e, assim,

A dimensão do quadrado de Sierpinski, do Exemplo 5, é e a do floco de neve de Koch, do Exemplo 6, é a mesma da curva de Koch.

 

Referências bibliográficas
CAMP, D. A fractal excursion. The Math. Teacher, April 1991.
CAMP, D., REINSTEIN, D., SALLY, P. Generating fractals through self replication, Math. Teacher, Jan. 1997.
PEITGEN, H.O., JÜRGENS, H., SAUPE, D. Fractals for the Classroom, vol.1, NCTM, USA: Springer-Verlag, 1991.